domingo, 22 de novembro de 2009

Dia-logar

Uma noite em pleno marco zero, com a cabeça tocada por um copo de vinho, deitada, olhando o céu sem metade da minha visão e percebendo que havia duas, três, quatro luas! Várias estrelas que emanam peixes, ou feixes de luz, estrelas gordas e distantes umas das outras, solitárias... com inveja das nuvens que se movem pra onde bem entender e logo morrem se desfazendo e transformando-se em vida.
-Anne, a vida não é para fracos...
- Então eu devo ser forte?
- Não, você deve morrer.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Gula


Não é todo dia que se quer ver um pastoso Van Gogh ou ouvir uma crocante fuga de Bach, ou amar uma suculenta mulher, mas todos os dias se quer comer. A fome é o único desejo reincidente, pois a visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba - mas a fome continua.

Clube dos Anjos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Shake the Disease

uuawweee uuhhwee ahhwheee aaahweee tantanrantan tantantantanranran.

Understand me.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Bêbada, não... Sonolenta.

Olá, vim fazer um relato de uma injustiça e um crime contra meus direitos familiares, é certo que não devo estar falando coisa com coisa, pois o sono e a revolta está me consumindo. O fato é que, agora, em plenas 3hs da manhã, fui expulsa do meu quarto! É, se eu quiser posso voltar, mas meu orgulho não está permitindo, tem uma cama bem aqui nesse quarto em que me encontro, mas não se se consigo dormir aqui. Na sala muito menos, é que não sou daquelas que dorme em qualquer lugar, ainda mais quando se tem medo. Eu quero o meu quarto e estou angustiada! Essas horas da madrugada e eu precisava desabafar, não tem alguém, então dane-se. Escrever no blog está sendo um consolo, algo que eu não sei se estou fazendo consciente, amanhã talvez eu decida conferir meu blog e nem sequer lembre desse post. Sabe de uma coisa, vou sacrificar meu orgulho e tentar dormir no meu quarto, talvez seja o certo a fazer, é melhor que eu esteja descansada, ou se não, amanhã não será um dia proveitoso, e o que eu menos quero para meu rosto são olheiras. Apesar de que, eu já tenho olheiras, mas, não são tão monstruosas. Oh, parece que estou vivendo um filme de drama adolescente. Em frente ao notebook, desabafando em um blog, chuva caindo lá fora, frio. Vou tomar um calmante, quem sabe eu durma rápido e esqueça toda essa agonia.

Pesadelos & Sonhos

Calor, um casal enlaçado em uma cama, sozinhos, embebidos. O céu negro com um saturno grande e alaranjado, com um anel amarelo cinzento e pontinhos coloridos ao seu redor. São mais que pontinhos, são bolinhas! São mais que bolinhas, são satélites. Uma lua. Lua gigante e medonha, no céu negro, vestígios de pesadelos da infãncia. Um navio pirata fantasma, e monstros saqueando casas. Uma casa, um labirinto dentro dela, labirinto com portas, portas escritas "wcs", dentro das portas banquetes, camas com espelhos no teto, na mesa tem pêssegos... pêssegos podres. Tortas recheadas, lençol de seda vermelho, outra porta, banheiro... repleto de chuveiros, com lixos no chão, um corpo no chão, corpo pálido, matéria morta. Uma hermafrodita nua, tomando banho, em meio ao sangue, ao lixo. Um cliente, uma anfitriã que o recebe abertamente o envolvendo no lençol de seda. Fim de banho, toalha azul, vestimentas, mais uma vez corredores... e um sofá, onde um humano com alma de porco come, come, come vendo tv, mas, está cego. Ruas escuras, você tenta fugir, mas nada contra a correnteza, senta-se ao lado de um beco sujo, fedido... fumaça de cigarro, cheiro de sexo, há uma orgia no beco. Em casa, baratas dançando no teto, pulo, cachorro preto teclando em notebook preto. Beslica, acorda, corre, foge! Não consigo me mexer. Luta, consegue, liga a luz... olha envolta, sente-se frustrado.

domingo, 1 de novembro de 2009

Evocação do Recife



Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!


A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão


(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.


Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras


Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.

(Manuel Bandeira ♥)