quarta-feira, 21 de julho de 2010

Corre, Forrest, corre!

Estava andando pela rua e o sol começou a me perturbar com sua claridade em meu rosto, sol de fim de tarde é fogo! E me vi sentando num banco de praça na sombra de uma árvore. Estava apreciando o ambiente, é muito bom estar num lugar com árvores. De repente, um rapaz com ar de mendigo, senta-se ao meu lado. Fiquei com medo, pois tinham tantos bancos vazios, por que sentar justo ao meu lado? Olhei de lado, e percebi que ele também olhava de lado... Tinha sobrancelhas bem grossas e era moreno de cabelos encaracolados uma feição assustadora, olhos quase diagonais e uma boca fina. Pensei "pronto, vou sair daqui já", quando fiz um lento movimento para me levantar, ele me tocou o braço e disse 'aqui é calmo né, moça?" Calmo? Eu estava era nervosa, talvez o ambiente estivesse calmo antes da presença daquele ser tempestuoso. Tive medo de me levantar logo e ele me seguir, sei lá... Só fiz afirmar com a cabeça sem coragem de virar o rosto pra o lado. Ele continuou "Quando eu morava com meus pais em Carpina, tinham vários lugares calmos para ficar, aqui em Recife, não se acha um lugar durante o dia onde passe pessoas toda hora, esse é quase uma exceção, né moça?" Que criatura pertubadora! O que ele queria dizendo aquilo? Nada de exceção, eu estava sozinha em paz até ele chegar, fingi não ouvir o que ele disse (o que era impossivel, pois ele falava claramente). "Uma vez, quando eu estudava numa escolazinha em Carpina, fui andando por um campo abandonado, andei, andei, e quando vi já era de noite, não tinha ninguém, nem um bichinho, uma escuridão danada, a noite tava sem lua, mal dava pra ver o chão. Eu não sabia pra que lado ir, acabei sentando e fiquei olhando pra o escuro e foi clareando minha visão, até que já via meus pés, juro moça, vi de tudo naquele escuro, um monte de vulto pra tudo quanto é lado, eu achei logo que era coisa da minha cabeça, eu saí correndo, como nunca corri na vida, corria que nem uma onça, eu juro moça, corria quase como um carro". Ouvindo toda aquela narração que não parava mais, me senti até mal por não ter percebido que em seus olhos diagonais tinha algo de sincero, era como se me pedisse algo. Até lembrei até de Forrest Gump. Depois de quase meia hora perdido no escuro correndo, corria tempo, eu o disse que quem precisava correr era eu, pois já estava anoitecendo, e precisava ir pra casa, já que não queria ficar perdida como ele na escuridão da noite. Ele riu, eu me levantei, dei boa noite e fui andando até o ponto de ônibus, pensando se não deveria ter ficado para ouvir o fim da narrativa.

Mas por que estaria curiosa? Por que me interessa o desfecho de um desconhecido? Na verdade não me interessa, no fundo não era nada para mim. Para ele era importante, pois precisava somente de alguém para ouvir sua história. É nisso que se baseia uma conversa - Cada um querendo falar coisas que acha importante para si mesmo, seja o namorado, os filhos, o trabalho, algo que aconteceu no passado, um segredo e etc. Mas, no fundo o ouvinte pouco se importa, pode até demonstrar curiosidade no momento, mas só alí mesmo, depois se tornará algo insignificante. E é pra isso que servem amigos, amigos são eternos ouvintes. Percebi também que muitas pessoas lhe usam só como ouvinte. Cuidado, aquele que parece ser teu amigo por te contar mil e um segredos, pode te abandonar na hora de te ouvir. Enfim, você só percebe isso quando vê que ninguém tem "tempo" pra te ouvir. Ou sempre estão cansados e com sono... Ou você se vê falando com seu cachorro, ou aquela pessoa sempre que escuta uma palavra sobre você associa a mil palavras sobre ela e etc...

Afinal, pra quê os blogs servem mesmo? É melhor parar. Hehehe.


3 comentários:

  1. ADOREI o seu texto, essa narrativa em linguagem simples me impressiona bastante!
    Confesso que no começo eu pensei "caramba, que texto grande, to com preguiça de ler", mas quando eu comecei, num instante acabou. Essa cena que você descreveu parece mais coisa de filme, nunca aconteceu um fato assim comigo.
    Eu também ficaria com vontade de saber o desfecho da história desse desconhecido, e concordo com você quando se trata das pessoas que nunca tem tempo para ouvir as outras.

    Gostei mesmo. E não, não é malhor parar. Continue ;)
    Beijos.

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  2. Ah, por nada. Pra mim é um prazer comentar nos seus textos. Dá pra perceber né? HSUHASUH'
    Fiquei impressionada com a rapidez com que você respondeu o comentário, continue assim, rs. Pensei que ia ter que esperar muuuitos dias.
    Se você tem novas ideias, poste :D Gosto dos seus textos! Beijos.

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  3. Que lindo Anne ._. Espero ser um bom ouvinte e que você não se incomode quando eu preciso ser ouvido.

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Tenho preguiça de ler comentários.